segunda-feira, 1 de março de 2010

Encerrando o assunto Zapata

Esta é a última edição em que toco no assunto do assassinato – repercussão e conseqüências – de Orlando Zapata Tamayo. E o faço, não porque tenha cansado de denunciar os crimes que ocorrem há 51 anos naquela ilha amaldiçoada do Caribe. Paro de falar no assunto porque minha paciência já transbordou de ver como, da noite para o dia, uma montanha de oportunistas passaram a sentir o drama dos cubanos a pé, sem sequer saber escrever corretamente o nome do falecido ou mesmo sua profissão, comparando-o com Lula como se ele tivesse alguma vez sido operário. Estou literalmente de saco cheio de ver os políticos e os jornais brasileiros explorando uma situação gravíssima, que não é de hoje, para tirar dividendos próprios – eleitoreiros ou de vendagem - mas sem abdicar da imundície de chamar os ditadores cubanos de “presidente” ou “líder”. Estou farta de gente que sequer sabe onde se localiza aquela ilha, fazer comparações – com intenção de crítica – ao comportamento de Lula porque colocou uma coroa de flores no túmulo do bispo salvadorenho comunista, Óscar Romero, mas não deu uma palavra sobre a morte de Zapata.

Este comportamento é absolutamente coerente com a ideologia do presidente de vocês, pois Óscar Romero – que muita gente nem sabe quem é – era o porta-voz da herética teologia da libertação em El Salvador, que incentivava os atos terroristas do FMLN, que dava guarida aos terroristas e assassinos daquele então, do mesmo modo que fizeram os “freis” Tito, Boff e Betto, enquanto que Zapata Tamayo NUNCA pegou numa arma nem defendia ditaduras espúrias como o faz Lula. Chega de tantos aproveitadores da desgraça alheia! Ninguém está DE FATO preocupado com o destino daquela gente escravizada porque, se assim fosse, também falariam dos outros presos políticos que estão tão gravemente enfermos e quase à beira da morte quanto Zapata – mas ninguém sabe disso! Bando de urubus! Soa indecente em certas bocas citar o nome deste mártir da ditadura cubana que, para “fazer de conta” que denunciam, criticam o comportamento de Lula sabendo que ele é parceiro de Fidel no Foro de São Paulo, mas não criticam o motivo principal que é a vigência da ditadura castro-comunista. Se Lula não tivesse tido o azar de chagar à Cuba no mesmo dia em que Zapata morreu, ele continuaria agonizando que este bando de hipócritas continuaria com seu silêncio cúmplice sobre o que ocorre na ilha, porque isto sempre foi assim e vai continuar sendo!

No dia do funeral de Zapata houve muitas manifestações no mundo contra a ditadura cubana, e um grupo de opositores residentes em Miami esteve na embaixada do Brasil fazendo seu protesto. Recebi a notícia com fotos e o vídeo no mesmo dia do evento mas, como não pude publicar logo, não repito aqui o que já tomou conta da rede. Chamo a atenção para o artigo Bem-vinda a morte dos demais, do exilado cubano Esteban Casañas Lostal publicado hoje no site do meu amigo Heitor De Paola, porque ele reflete exatamente o meu sentimento enquanto escrevo este post. E para concluir a edição de hoje e encerrar este assunto, traduzo abaixo um artigo publicado no “El Nuevo Herald” de Miami, onde se concentra a maior comunidade de exilados cubanos, relatando um enterro simbólico de Zapata ocorrido ontem (28.02) com a participação de mais de 5.000 pessoas. Nas edições futuras volto a falar das FARC, outro assunto que só vira notícia dos jornais quando é para enaltecer a “ternura” dos terroristas. Fiquem com Deus e até a próxima!

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Milhares protestam no funeral simbólico de Orlando Zapata

Juan Carlos Chávez

Grupos de exilados cubanos e de outros países latino-americanos em Miami criticaram abertamente no domingo o regime castrista, pela violação dos direitos humanos e o tratamento cruel de que são vitimas os opositores dentro da ilha.

A multitudinária atividade realizou-se na Rua Oito, em memória do preso político Orlando Zapata Tamayo que faleceu na semana passada devido a complicações de uma prolongada greve de fome de 85 dias. “É lamentável a continuidade da perda de homens que morrem por sua dignidade e por representar o povo cubano em seus reclamos de liberdade”, disse o empresário Francisco “Pepe” Hernández, presidente da Fundação Nacional Cubano Americana (FNCA).

Entre gritos de “viva Cuba livre” e “já basta!”, os assistentes deixaram claro que a lembrança de Zapata se manterá viva na luta pela democratização da ilha e pela integridade de todos os presos de consciência. Os exilados levaram laços negros em sinal de luto, e expressaram sua repulsa frente ao que qualificaram como “uma nova atrocidade” da ditadura cubana.

Zapata, de 42 anos, foi catalogado como prisioneiro político pela Anistia Internacional após sua prisão em 2003. O dissidente se revelou em 3 de dezembro passado para denunciar atropelos e humilhações na prisão Kilo 7, na cidade de Camagüey.

“Estamos aqui por um opositor ao qual deixaram morrer por greve de fome, e por todas as vítimas da revolução. Não vamos permitir mais injustiças, queremo a liberdade de Cuba e de todos os cubanos”, disse Mario Averhoff, um manifestante de 48 anos. O homem era um dos muitos cidadãos comuns que agitaram bandeiras e cartazes com a foto de Zapata ao lado da Rua Oito. O protesto se iniciou ao pé do Monumento dos Mártires de Girón, às 2 p.m. e se prolongou até às 4 p.m.

“A mensagem que trago não está escrita por nós, senão pelos irmãos que morreram nestes cinqüenta anos de ditadura comunista, e por Zapata. Um porta-voz do dever caiu”, disse Rodolfo San Román, porta-voz do Presídio Político Cubano.

No evento realizou-se um cortejo fúnebre, de caráter simbólico, em honra a Zapata, que cumpria condenação de mais de 30 anos no momento de seu falecimento. Também leu-se uma lista parcial com os nomes dos presos políticos cubanos e guardou-se um minuto de silêncio pelas vítimas do comunismo e pelos mortos do terremoto no Chile.

A manifestação alcançou seu ponto mais emotivo quando os exilados conseguiram se comunicar via telefônica com Reina Tamayo, mãe de Zapata. A mulher valorizou as mostras de solidariedade da comunidade e instou os presentes a continuar na luta democrática. “Adiante nesta marcha, Orlando não morreu. Adiante!”, exclamou Tamayo. O ato de recordação encerrou-se com o tema “Já vem chegando”, de Willy Chirino, e foi um dos vários eventos que se organizaram no fim de semana em escala local, entre eles, uma missa na Ermida de La Caridad.

Traduções e comentários: G. Salgueiro