quarta-feira, 6 de agosto de 2008





Na noite da segunda-feira 04 de agosto, o canal de tv RCN da Colômbia, no programa RCN Notícias, apresentou o vídeo completo da “Operação Xeque”, causando grande alvoroço e comoção entre os telespectadores. Para o governo entretanto, a divulgação deste vídeo caiu muito mal, não só porque houve vazamento de informação sigilosa por parte de algum militar que participou da operação (é bom recordar que o grupo total foi composto de 18 pessoas, mais os Comandantes Geral, do Exército, da Aeronáutica, da Polícia e o ministro da Defesa, além do próprio presidente Uribe), como também por expor os oficiais do serviço de Inteligência que DEVEM permanecer anônimos. Este anonimato não é “vedetismo” mas questão de SEGURANÇA deles, da Instituição aonde servem e da própria Nação.

Neste vídeo (de aproximadamente 30 minutos divididos em 5 partes), aparece toda a operação desde o princípio, gravada pelos próprios militares: a preparação dos helicópteros nos hangares, o treinamento dos participantes da operação, o deslocamento dos helicópteros até a base na selva, o resgate, etc. Nele pode-se observar com clareza – porque posaram para fotos – que foram usados os logos da Cruz Vermelha, da tv chavista TeleSur e da tv equatoriana Ecuavisa. Isto causou muita polêmica, sobretudo com relação à Cruz Vermelha que afirmou que este uso indevido fere leis internacionais nas operações de ajuda humanitária, e põe em dúvida se os integrantes da missão são de fato membros da referida instituição ou militares disfarçados.

Ao tomar conhecimento do fato o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, expressou seu descontentamento com veemência. Disse ele: “Como disse o senhor presidente, lamentamos muitíssimo que este logo tenha sido utilizado contra instruções precisas e novamente oferecemos desculpas. Com o vídeo de ontem demonstra-se que a realidade foi diferente, que o logo foi utilizado desde o começo da operação; lamentamos que isto tenha sucedido, porém no governo dissemos a verdade que conhecemos naquele momento e vamos averiguar isso, porque dissemos o que nos foi dito. Vamos investigar o que ocorreu”. Leiam aqui a declaração completa do ministro Juan Manuel Santos.

E o presidente Uribe emitiu um comunicado à imprensa esta manhã: “O Presidente reitera a necessidade de permitir que todos os meios de comunicação tenham igual e oportuno acesso às notícias mais importantes. É grave que integrantes das Forças Armadas filtrem notícias de maneira clandestina e sem coordenação com seus superiores. Ademais, é grave que nas primeiras investigações sobre a Operação não tenha sido revelada toda a verdade”. “Toda a verdade”, a que se refere Uribe, não é revelar para o mundo o vídeo completo com detalhes secretos da operação, mas que os logos tivessem sido usados desde o princípio ferindo as ordens superiores estabelecidas desde o treinamento. O canal RCN defendeu-se afirmando que é papel da imprensa correr atrás dos “furos” e alegando que pouco importa se pagou-se ou não para obter a informação. Todavia, questiona o “direito” do governo de “omitir” à população as informações completas sobre a operação.

A esse respeito, é lícito também se questionar a serventia para o público da revelação dos detalhes internos que precederam uma operação sigilosa e de altíssimo risco, que resultou plenamente exitosa. Não estamos tratando de um filme de espionagem mas da realidade cotidiana de um país em guerra, onde o inimigo não dá trégua, mesmo enfraquecido e debilitado em vários aspectos, não apenas no militar. Ainda ontem 3 militares da Força Aérea, que cumpriam missão de treinamento, sofreram um acidente fatal. Segundo o Boletim Informativo datado de hoje, 5 de agosto, há fortes indícios de ter-se tratado de um ato terrorista; mais um.

Outro ponto questionado pela RCN durante a exibição do vídeo é a forma como foram tratados os terroristas “Cesar” e “Gafa”, imobilizados durante a operação. Eles foram sedados, algemados, tiveram as calças abaixadas e o rosto coberto por um pano. Ao chegar no acampamento “Cesar” foi arrastado e “Gafa” carregado nos ombros do militar que fingia-se de médico da organização. Quando acordaram, receberam água e o militar falou naturalmente com eles afirmando que seus direitos seriam respeitados. É assim que procedem aqueles que agem em conformidade com a lei mas o tumulto certamente virá, por parte das esquerdas – sobretudo Chávez que fará disso mais um motivo de espalhafato -, como existe em torno à Base americana em Guatánamo. O que mais esta gente quer? Os delinqüentes tiveram seus direitos respeitados, como prisioneiros de guerra – que não são. E isto é mais que o suficiente, pois não é assim que eles tratam aqueles que seqüestram. É bom lembrar aqui, o caso dos 11 deputados assassinados e que, para não assumir que são reles e frios psicopatas que matam a troco de nada, mentiram dizendo que eles foram abatidos durante um confronto com terroristas do ELN.

Se eu fosse a única pessoa a tomar conhecimento desses vídeos não os repassaria, não porque tivesse ferido minha sensibilidade ver um criminoso apenas de cuecas e arrastado pelo chão. Não. Não repassaria porque há coisas que não devem mesmo ser dadas a conhecer a qualquer um. O que importa para os colombianos e o mundo é que 15 pessoas foram libertadas com vida sem que um só disparo fosse dado. Sem que uma gota de sangue – de ninguém – fosse derramado e dois terroristas estão hoje atrás das grades onde irão pagar pelos crimes cometidos, como manda a Lei. Os métodos utilizados foram lícitos? Usar os logos de instituições que não participaram da operação é crime? Não creio. Quantas vezes se tem notícia, não só aqui no Brasil, de que criminosos vestindo uniforme de policiais assaltam, roubam e matam suas vítimas, fazendo falsas blitz? Ao contrário destes, os militares da Operação Xeque em vez de morte trouxeram vida e liberdade; em vez de armas, usaram a inteligência e ludibriaram os marginais acabando com o flagelo de, em alguns casos, 10 anos de campo de concentração, torturas físicas e psíquicas.

O que entristece e empana o brilho da incomparável Operação Xeque é a atitude do (ou dos, não se sabe) militar que revelou os aspectos confidenciais do caso. Feriu os princípios da disciplina, da hierarquia e da confiança. Traiu seus superiores, sua Instituição e sua Pátria. A troco de quê? A serviço de quem? Com qual objetivo? É incompreensível, inaceitável e condenável sob todos os aspectos este comportamento; meu desejo é que este fato insólito seja descoberto e o (ir)responsável punido. E como já é de domínio público, aqui estão os 5 vídeos da Operação Xeque. Repasso-os para que se possa ver a magnitude do trabalho destes anônimos guerreiros que, cumprida a missão e entregues as vítimas às suas famílias e os terroristas à Justiça, voltaram silenciosamente para suas casas, com a certeza do dever cumprido. Vejam aqui: Parte 1, Parte 2, Parte 3, Parte 4 e Parte 5.
Fiquem com Deus e até a próxima!

Comentários e traduções: G. Salgueiro