sexta-feira, 27 de dezembro de 2002

O Notalatina pede desculpas pela ausência de edição dos dias 25 e 26, mesmo tendo um vasto material para divulgar; todavia, problemas de ordem técnica me impediram de informá-los sobre os últimos acontecimentos na Venezuela.



Nesses dois dias muitas coisas aconteceram. O que tem chamado mais a atenção, sobretudo dos venezuelanos, nos episódios relacionados à greve geral, é o comportamento do presidente eleito do Brasil que, através do seu emissário, Marco Aurélio Gracia, ofereceu a Chávez gasolina e técnicos da Petrobras para ajudá-lo a sair da crise, provocando a indignação geral dos opositores que têm manifestado seu repúdio com veemência, à solidariedade do brasileiro para com o “companheiro”.



Com relação à situação dos petroleiros, Cuba não fica atrás na presteza; enviou pessoal da confiança de Fidel para ocupar o lugar dos marinheiros mercantes venezuelanos, o que provocou revolta entre os opositores. Chávez demitiu 90 marinheiros, ocasionando sérios problemas, pois alguns tiveram complicações cardíacas, com o choque da notícia, que necessitavam de cuidados hospitalares urgentes, segundo denúncia felta pela Cruz Vermelha Venezuelana, mas encontravam-se embarcados, porém presos em celas. Há alguns correndo risco de vida, mas, certamente, isso pouco importa ao “loco” Chávez.



São muitas as notícias mas, mesmo com o acúmulo de dois dias de informações, hoje divulgo apenas duas cartas: uma, intitulada “Manifesto de cidadãos venezuelanos aos povos do mundo”, escrita por Elizabeth Sanchez Vegas e outra que me foi enviada por uma amiga, escrita por um venezuelano, enderaçada ao presidente Lula, uma carta forte e contundente. Ambas são muito interessantes, entretanto, tenho ressalvas quanto ao “Manifesto”, pois omitiu um dado da maior importância (talvez o objetivo principal) nesse movimento cívico, que é a recusa absoluta de toda uma nação, à implantação do castro-comunismo em seu país. Isso é o eixo fundamental do movimento que foi capaz de unir patrões e empregados, civis e militares, homens e mulheres de todas as idades e classes sociais. O povo venezuelano diz NÃO ao castro-comunismo, e a prova mais eloqüente disso é o nível de suportabilidade para enfrentar a escassez de gêneros alimentícios e combustíveis, com resignação e paciência em filas quilométricas, e ainda com ânimo para ir às ruas protestar, por amor à pátria. Bravo povo venezuelano!

NI UM PASO ATRÁS!



MANIFESTO DE CIDADÃOS VENEZUELANOS AOS POVOS DO MUNDO



Caracas, 25 de dezembro de 2002



A Venezuela vive hoje a pior crise política, econômica e social de toda a história que nos levou à maior pobreza, desemprego, insegurança, violência e polarização entre venezuelanos, nunca antes conhecida. Para superar esta crise, democrática e pacificamente, a maioria dos venezuelanos só pede a Chávez uma saída eleitoral ou sua renúncia. Os venezuelanos não queremos um golpe militar nem intervenções alienígenas, nem nada que substitua os mecanismos democráticos. Só pedimos a realização de eleições livres.



Chávez, desde 1999, empreendeu um sistemático ataque contra os trabalhadores e seus sindicatos, os partidos políticos, inclusive alguns dos que o apoiaram, os meios de comunicação e jornalistas, os empresários e agricultores, a igreja, as próprias instituições do Estado quando se pronunciam contra si e todos os cidadãos.



Chávez não é um democrata; utiliza a plataforma democrática para tratar de impor-nos uma revolução pela qual o povo venezuelano não votou. Que o mundo não se engane. Chávez e o reduzido grupo que hoje o apoia, quer impor-nos uma revolução que não é pacífica porque não tem feito outra coisa que ofender, agredir e desqualificar. Que não é democrática, senão totalitária porque não entende de opositores, mas de inimigos a destruir, e que não é participativa porque nos exclui e nega-se a permitir a participação de todos na solução da crise.



Desde o ano de 2001 e até a presente data, distintos setores vêm empreendendo legítimas ações de protesto que gradualmente têm aglutinado à imensa maioria dos venezuelanos, como o demonstram as marchas e concentrações que se realizam diariamente em todo o país, assim como as pesquisas de opinião, exigindo infrutuosamente, primeiro, retificação ao governo, com diálogo efetivo e, por último, uma solução eleitoral à crise. Há mais de 20 dias o povo venezuelano encabeça uma Parada Cívica Nacional com o propósito de exigir uma saída democrática à atual ingovernabilidade. Em que pesem os esforços nacionais e internacionais, o governo foge, por todos os meios ao seu alcance, de uma sincera negociação para alcançar um acordo eleitoral.



Não se trata, como este governo quer apresentar demagogicamente ante o mundo, de uma conspiração midiática das elites contra um governo à serviço dos pobres. Trata-se de uma luta de todo um povo contra um governo incapaz, mentiroso, cínico e surdo, que nos levou à maior pobreza, desemprego, angústia e desesperança nunca antes conhecidos pelos venezuelanos.



OS VENZEULANOS EXIGIMOS SAÍDA ELEITORAL JÁ!



Elizabeth Sanchez Vegas – NetForCubaInternacional – www.netforcuba.org



INÁCIO LULA DA SILVA NÃO ENTENDE O QUE QUER A OPOSIÇÃO VENEZUELANA?



Senhor Inácio Lula da Silva.



Tenho entendido que o Sr. foi um dirigente trabalhista, um membro do sindicato de trabalhadores do Brasil.



Também tenho entendido que muitos dirigentes de outros países crêem que o Sr. é um homem bom, modesto, humilde, que aparentemente tem boas intenções para com seu povo e o resto do mundo. E eu quero crer assim também.



Há três fatos que não combinam ou não se encaixam em absoluto na engrenagem de seu perfil político: 1) sua declaração em Havana, onde o Sr. agradeceu a Fidel Castro e seu regime assassino, imperialista e terrorista por haver permanecido, por continuar existindo, por seguir dando um exmplo; 2) suas declações indicando sua distância com Chávez e sugerindo uma mudança política de Chávez, e 3) suas declarações de agora, onde o Sr. assevera não entender os desejos da oposição venezuelana quando lhe reclamam o fato de que o Sr. esteja oferecendo gasolina, suporte técnico, navios, etc. ao governo de Chávez, para que este assassino, terrorista, esquizóide, possa uma vez mais burlar o povo que lhe pede em uníssono sua renúncia e uma saída eleitoral imediata à séria crise nacional.



Se o Sr. é verdadeiramente um líder sindical e dos trabalhadores, e não um comunistoide com fins macabros que teve a paciência de aparentar sê-lo durante mais de 40 anos, o Sr. deveria entender cabalmente que o Sr. DEVE IDENTIFICAR-SE com a posição do líder sindical Carlos Ortega, homem de origem humilde, como o Sr. que, igualmente a um extraordinário número de venezuelanos depositou uma vez sua confiança e voto em Chávez e depois de haver sido traído e abusado por este, mentém uma oposição férrea, pacífica, democrática e legal, junto aos mais de oito milhões de trabalhadores os quais ele representa, membros do maior e mais representativo organismo sindical da Venezuela, hoje contra Chávez. Vale acrescentar que esta posição é, hoje em dia, de acordo com as mais sérias pesquisas realizadas no país, a posição de mais de 80% dos venezuelanos e, por fim, a maioria absoluta. Consequentemente, é a posição do povo, do soberano venezuelano.



O Sr. sabe muito bem que ajudando com gasolina, com pessoal especializado, com navios e demais, o Sr. está ajudando a que o golpista Chávez, que tem a obrigação moral, social, política, ética e pessoal de responder a esse povo que está decidido a perder trabalho, saúde, propriedades, enfim, tudo, para conseguir uma mudança democrática, constitucional e pacífica em seu país, permaneça ainda mais no poder. O Sr. está traindo seus supostos ideais de trabalhador e de membro humilde e digno do povo, quando o Sr. se presta a ajudar um golpista que vem há 4 anos enganando, insultando, provocando, ameaçando, perseguindo e matando o povo da Venezuela.



O Sr. vai me dizer que também pertence aos que são cegos e surdos à atual crise da Venezuela? Quer-me dizer que as marchas de milhão e meio de venezuelanos não lhe dizem nada? Que a Parada Cívica Nacional de mais de 20 dias não lhe diz nada? Que os marchantes, protestadores pacíficos, mortos por um balaço de frente por franco-atiradores de Hugo Chávez no 11 de abril e em 6 de dezembro de 2002, não lhe dizem nada? Que tampouco nada lhe diz o fato de que Chávez tenha feito vários referendos e eleições quando o propósito e as pesquisas lhe convinham e agora negue-se rotundamente a levar a cabo qualquer dos dois, quando o povo soberano lhe pede e, certamente, o propósito e os resultados das pesquisas não lhe convêm? Que o Sr. não entende porquê a oposição a Chávez se molesta com o Sr.? Faça-me o favor, não nos tome por estúpidos!



Não seja o Sr. outro falso a mais, como todos os esquerdistas. Ainda não tomou o poder e já está o Sr. indicando sua solidariedade com regimes não-democráticos, os mesmos com os quais o Sr. quis manter distância quando o Sr. todavia não tinha assegurado a vitória eleitoral no Brasil. O Sr. respalda o Foro de São Paulo, o Sr. respalda Castro, Chávez, as FARC e a todos os organismos de esquerda da América Latina, os mesmos que têm bombardeado igrejas e matado centenas de inocentes crianças nelas. O Sr. quer criar uma bomba atômica no Brasil, etc., e os fins não devem ser precisamente bons. E há muito mais a dizer sobre suas intenções, porém vou permanecer no que me incumbe e interessa, como venezuelano: VENEZUELA.



Medite, pois ainda está em tempo. Uribe acabará com a guerrilha dentro de pouco tempo. O povo da Venezuela derrotará, julgará e encarcerará Chávez e os terroristas das FARC, de Castro e de Hussein que estão na Venezuela. A comunidade internacional, o exílio cubano, os dissidentes e os Estados Unidos acabarão com Castro muito em breve. O homem do Equador vai ter que entrar pela mesma porta dos demais. Não cometa um erro garrafal, deixe de cinismos, desate toda sorte de ligações com esses obscuros fantasmas da História e una-se aos libertários da América e do mundo.



ABAIXO Chávez, ABAIXO Castro, ABAIXO os terroristas, ABAIXO a esquerda internacional!



Stefano Pagani



terça-feira, 24 de dezembro de 2002

Hoje é véspera de Natal, mas o Notalatina está aqui no plantão, ligada pelo coração àquele bravo e resistente povo venezuelano, que ao contrário dos outros anos e dos outros povos cristãos, optou por não comemorar essa data majestosa com festas.



O Natal na Venezuela será comemorado nas ruas e avenidas com mais uma “marcha luminosa”, onde multidões incalculáveis se reúnem com as únicas armas com que têm lutado nesses 22 dias da Parada Cívica Nacional: bandeiras, apitos, velas e tochas, além de um caçarolaço programado para soar à meia-noite.



O primeiro artigo de hoje vem do site El Gusano de Luz (Vagalume), num relato cheio de emoção do jornalista Ricardo Mitre e o segundo, um manifesto em apoio aos venezuelanos escrito pela União dos Ex-Presos Políticos Cubanos. Infelizmente não tenho como colocar aqui as fotos desse movimento pacífico e forte, mas elas podem ser vistas no site www.elgusanodeluz.com site que recomendo por ser muito fiel ao que se tem passado na Venezuela, sem disfarces nem mentiras.



O VELHO CORAÇÃO E AS TOCHAS



Ricardo Mitre



Chego com Graciela à Praça das Américas para marchar dali, já que a falta de gasolina me impede de ir ao Oeste para fazê-la com meus companheiros de Catia. Nos reunimos para marchar e descobrimos com emoção que a ampla maioria dos participantes tem a idade dos nossos filhos e denotam, além de sua determinação, essa generosidade inevitável da juventude.



Ficamos um tempo marchando quando começa a cair a noite e de repente surgem as luzes das velas, das tochas e das lanternas iluminando a noite caraquenha. Para a frente, a marcha reluz interminável. Volto para trás e minha vista perde-se no horizonte de cabeças e luzes. Outra vez a marcha foi massiva, penso, enquanto alguém me diz que nos outros pontos de concentração a convocatória foi respondida do mesmo modo e que, talvez, novamente, esta tenha superado a anterior. Falamos, cada vez, de mais de um milhão de almas; coisa que parece ser de todos os dias.



Levo um tempo marchando e em cada urbanização que passamos vão-se integrando numerosos contingentes nos quais predominam os jovens com suas velas. Comento com Graciela que nunca tinha visto tantos jovens e trato de captar seus rostos com minha câmera. De imediato o velho coração que pulsa, um tanto cansado dentro do meu peito, tem um estremecimento de emoção e as lágrimas acodem em meus olhos ao ver esses rostos jovens cantando e gritando palavras de ordem.



Amanhã é noite de Natal, pensa meu velho coração e este belo e manso povo que neste mês, todos os anos, expressava sua alegria em um “corre-corre” para comprar inumeráveis presentes, para atender a “seu amigo secreto” e para organizar inumeráveis festas até a madrugada, decidiu ficar sem Natal e dar amanhã à noite, exatamente às 12 da noite, um caçarolaço para que ninguém se esqueça de sua indignação.



O velho coração que agora marcha à altura de San Luis esteve outrora, em outro país, quando era tão jovem quanto a mocinha que agora marcha a meu lado cantando entusiasmada, em outras gigantescas mobilizações, que embora com palavras de ordem diferentes, clamavam pelo mesmo: liberdade, tolerância e não exclusão. Aquelas fracassaram: esta dependerá da coragem que chegue para cada dia, exatamente de nossa persistência, de nosso denodo na luta e da fé que acuda em nosso ânimo.



Quando chegamos a Chuao, a marcha é um imenso rio humano de cidadãos mobilizados que sepultam a presença de partidos políticos que puderam comparecer como tais. E continua a marcha de imensas luzinhas. Alguém que me reconhece me pede uma foto. Outro grita “avante El Gusano de Luz” e o velho coração volta a falhar. Lembro, então, a manhã de um sábado frio de janeiro de 2001, quando decidimos fundar este site. Nesse dia decidimos que havia pequenas luzes que brilhavam na noite mais escura que a Venezuela havia vivido e dissemos que ”na noite mais escura é que brilha o Vagalume” e explicamos, milhares de vezes que, quando todas essas pequenas luzinhas brilhassem juntas, se faria a luz. Dissemos, igualmente, que nascíamos para pensar no país que virá. E realmente esse país virá.



Fizemos algo pela luminosidade, pressentimos, tanto que passamos por La Carlota e o sábio instinto das pessoas grita palavras de ordem contra a repressão. Não fomos trabalhar com os companheiros de Catia uma vez que pensávamos e pensamos que o país mudaria, definitivamente, quando o povo se encontrasse com os letrados e pudesse compartilhar um espaço comum. Este povo despertará, dizíamos, enquanto nosso andar dificultoso em Chuao nos evoca as enormes filas que neste dia se fizeram ante o Registro Eleitoral Permanente. Todos queremos essa saída que agora estamos defendendo nas ruas. Essa foi a mensagem da juventude deste país mobilizado.



E realmente isso se passa, parece dizer a gigantesca marcha que chega do Oeste da cidade, à qual se soma, no trajeto, muita gente proveniente de cada uma das urbanizações e bairros que atravessa. As ruas são nossas.



Quando o velho coração chega a Chuao a concentração alcança níveis asfixiantes. Alí não cabemos todos os que vínhamos e inevitavelmente muitos têm que voltar, penso enquanto caminho, voltando, junto com uma nada desdenhável, pelo número, marcha que regressa pelos dois canais do Boulevard de El Cafetal. As pessoas cantam seu entusiasmo. Não importa se é de ida ou de volta.



Este povo saiu para brilhar, também, nessa noite escura. Amanhã é 24 de dezembro de 2002, e esta gente não honrará a festa. À tarde e à noite há atos para indicar que o “bravo povo” não recuará na luta.



Ali estaremos porque todos seguiremos brilhando juntos nesta noite ainda escura, já que o povo está na luta com uma determinação que não poderá ser sufocada pela repressão que cada dia ensaia mais disfarçadamente um regime autista e bocejante.



Esta noite acenderam nossas luzes. Todos somos “Vagalumes” e assim o faremos saber, quando terminado “o mandato” que nos encomendaram, há que discutir, de verdade, o país que há de vir.



Dentro de algumas horas continuará soando esta voz de protesto de um novo povo que não tem medo e palpita fortemente, comovido pela emoção, nessa vontade inquebrantável de construirmos de novo.



Sinto que a hora do milagre está cada vez mais próxima. Me disse esse velho coração que viaja, cansado dentro do meu peito e que esta noite palpita, acelerado, em cada protesto e em cada canto.



É Noite de Natal e a Venezuela inteira luta. Continuaremos lá.



Em todos os momentos. Sempre...



Fonte: El Gusano de Luz



União de Ex-Presos Políticos Cubanos Inc., Zona Norte, New Jersey (NJ)

VENEZUELA: “GLÓRIA AO BRAVO POVO”



Com as quatro palavras do hino nacional venezuelano, rendemos tributo ao bravo povo venezuelano que nas ruas ou nas praças tem desafiado o governo do militar anteriormente golpista Hugo Chávez; com manifestações, com toques de caldeirões, com paradas de trabalho, com navios cisternas carregados de petróleo parados nos portos, com uma Central de Trabalhadores digna de sua relação, com militares manifestando sua obediência ao chamado da Pátria em crise e ao povo ao qual devem sua posição.



Muitos cubanos viveram e vivem nessas terras que pariram o gênio libertário que foi Simón Bolivar. Ali transmitiram suas experiências do viver totalitátio, ali em terras donde nunca se sentiram estrangeiros e onde sua língua não tinha acento, criaram simpatia para sua luta e ensinaram a experiência de como se leva um país ao totalitarismo explorando verdades sociais e pondo em prática sistemas de propaganda e estratégias psicológicas. Muito devem os cubanos que viveram ou vivem na Venezuela a essa grande nação; em resposta, os venezuelanos tiveram de primeira mão o testemunho da vida cruenta na Tirania que os ajudou a preparar-se e a escolher as melhores formas para opor-se à perpetuação do poder unipessoal, tomando como modelo o fracassado castrismo de Cuba. E apesar de que os afetos ao governo, os sicários da violência organizada estejam utilizando a bandeira cubana em seus atos, e até o próprio Chávez tem-se coberto em algumas ocasiões com a bandeira da estrela solitária, os venezuelanos têm sabido distinguir entre as duas Cuba: a que mata e atropela sustentando a Tirania mais velha do continente e a que é digna do respeito dos homens livres do mundo por ter sido a Pátria de Martí, e ontem berço dos melhores ideais, onde os povos da América souberam em seu momento beber a sábia imorredoura da Liberdade.



As prorrogações de poder, as Constituições emendadas ou derrogadas, os tribunais de Justiça em mãos de partidários, os Congressos dissolvidos e as hierarquias militares substituídas por afetos, são métodos dirigidos para perpetuar homens e partidos. Só a sabedoria dos povos pode distinguir quando estes assuntos são manejados em horas em que o triunfalismo sufoca o estabelecido e esperanças mal alimentadas de supostas mudanças ensombrecem a Justiça. Os direitos individuais e a Liberdade tratam de se esconder em altares de um bem nacional que nunca terá fim, enquanto turbas mal intencionadas fazem o papel de forças de choque e de árbitros dos que pedem a mudança democrática.



Só um milagre salvará o povo venezuelano de um trágico banho de sangue; só uma comunidade internacional bem intencionada impedirá que fatores estranhos entrem em jogo para suprir as limitações de Chávez ou a experiência dos novos dirigentes da oposição. Quando a nação entra em uma etapa convulsiva, pode haver pescadores de rios revoltosos, como quando o processo conduzido pelo chileno Allende chegou a ser manejado pelos assessores castristas; com Ortega se passou o mesmo na Nicarágua. Estes assessores atearam fogo onde se debatiam idéias, criaram mártires e buscaram um inimigo comum em ultramar para alcançar uma unidade nacional, que só existiria se os caudilhos fossem aceitos unanememente.



Cremos no triunfo da oposição venezuelana; cremos no ressurgimento dos melhores para conduzir o país por caminhos de bem-estar e de paz; cremos que então a Venezuela entornará seus amplos caudais humanos e econômicos no conglomerado dos países livres e democráticos que hoje defendem uma batalha decisiva contra o terrorismo internacional; cremos no BRAVO POVO que um dia iniciou a independência da América para sempre.



O Notalatina volta com notícias da Venezuela, trazendo hoje comentários do Dr. Rómulo Lander e duas análises sobre essa situação insustentável pela qual passam nossos vizinhos irmãos venezuelanos.



É ao mesmo tempo angustiante e gratificante ver a coragem e determinação desse bravo povo que segue, há exatos 21 dias, numa incansável e pacífica luta pela democracia e liberdade, apesar da forte repressão feita pelo insano presidente Chávez e seu séquito de terroristas que o aplaudem e dão cobertura.



A cada mensagem recebida diariamente, (e às vezes são tantas que quase fico sem saber o que reportar) mais meu coração se une a essa brava gente e com eles grito em pensamento: NI UM PASO ATRÁS!



Amanhã é véspera do Natal. Rogo ao pequeno Deus que nasce para a nossa salvação, que ilumine com Sua inefável Luz os irmãos venezuelanos e proteja toda a Venezuela contra o castro-comunismo.



Felices Navidades a todos los hermanos Latinoamericanos!



Caracas, 23 de dezembro de 2002 – 5:00 PM



A situação aqui em Caracas e em toda a Venezuela continua crítica. A Parada Nacional continua hoje em seu vigésimo primeiro dia. Tudo está parado, todos os dias marchamos pelas ruas em uma busca pela liberdade.

Hoje, dentro de uma hora, às seis da tarde, irei marchar com tochas e velas pela avenida principal das Mercedes para terminar na Praça da Meritocracia no leste da cidade. Afortunadamente, todavia, há pouca violência. Só dois ou três mortos por dia (na Venezuela toda) por efeitos de bala, nas marchas. Neste momento, vejo pela televisão, a entrevista com um jovem ferido a bala, na marcha de ontem na cidade de Maracaibo.



A gasolina escasseia, 90% dos postos estão fechados. No momento há alimento nas casas. As pessoas passam horas nas filas para inscrever-se no registro eleitoral (os novos eleitores). Todos desejamos uma saída democrática e eleitoral a esta tragédia. Não queremos o regime Castro-comunista que tentam implantar na Venezuela. Quanto a essa intenção, não há dúvida. A disputa é agora ou nunca. Pouco a pouco a violência vai aumentando, todavia os Círculos Bolivarianos da morte ainda não fizeram sua aparição na cena. Sabemos que Chávez não deseja as eleições e, além disso tem o poder de fogo em suas mãos. Portanto, ninguém sabe o que vai se passar aqui. É claro que existe uma alta motivação para continuar com a parada; ninguém pensa em suspendê-la, mesmo quando, é certo, algumas casas comerciais menores têm aberto suas portas nestes dias. Isso é algo que se tolera com dignidade e sem ofensa. São companheiros que estão com a causa anti-chavista, porém necessitam pagar suas contas deste mês. Esses casos não afetam a essência da parada geral. São bem tolerados. A PDVSA e os Marinheiros dos petroleiros estão firmes na parada e isso é muito importante. Requerem todo o nosso apoio.



NEM UM PASSO ATRÁS E CEM PASSOS À FRENTE!



Rómulo Lander



PLEBISCITO



Benjamín Molpo



Ao observar as ações e reações do governo frente a um reclamo cada vez mais amplo, não se pode evitar de recordar o que dizia um filósofo, algo como que atrás de todo déspota há um jurista para justificar seus abusos e cobranças injustas e violentas. Sem compreender que todos estes abusos e ações equivocadas, não detêm nem ajudam a melhorar o clima de tensão que hoje se vive.



O governo tomou o caminho mais difícil para todo o governo democrático: o Plebiscito, como forma de manter-se no poder. Ignorando o sentido comum e ainda mais o dissimulado das formas. E isto traz como consequência o contrário do que seria a meta sã de todo governo: a governabilidade na paz. E é que em cada ação o oficialista, faz crescer ainda mais a plataforma motivacional da oposição.



O oficialismo e seus sofistas, igualmente a Protágoras, se especializam em converter qualquer argumento oco em sólidas afirmações, só cuidam de “dignificar” seus crimes, e assim elaborar toda uma cadeia de coerção física com “bases legais e patrióticas” e todo o deslocamento de uma sorte de mitologia comunicacional que o explique.



As mensagens do oficialismo ainda apelam aos sinais-clichês, tirados dos símbolos fascistas (paradoxo), cujas mensagens não só calam entre seus partidários, como são sinais intimidatoriais contra seus oponentes.



Porém, ainda com todo este deslocamento, não é suficiente, e ainda se aguça mais a idéia de sufocar e afogar qualquer saída eleitoral. Desta forma, sabe que já não é aceitável decapitar um ou dois oponentes para deter um movimento opositor, senão sua preocupação e objetivo prioritário são milhões de oponentes e de maneira midiática provocar um plebiscito, através do desgaste e da desilusão da aparente inação. Por isso sua estratégia propagandística converte-se rapidamente no centro do seu esforço: os rumores, ativar os navios petroleiros, dividir a oposição e quebrar a parada, para conseguir a desmotivação da maioria.



Por outro lado, a oposição sem se propor a isso, converteu-se em um movimento social, forte e coeso para um fim, evoluiu desde as primeiras queixas isoladas, em todo um movimento representante das forças sociais mais díspares, que julgam este processo auto-denominado revolucionário.



Também vimos como estas forças levantaram-se contra as “instituições”, ou melhor dizendo, contra as manipulações de tais instituições, acompanhadas desde cedo de modo destrutivo pelos meios de comunicação, e estes foram incrementando seus recursos argumentativos para desmascarar a ideologia hegemônica deste projeto político.



Agora, sem dúvida, presenciaremos uma escalada de violência e protestos que variarão em intensidade. E ao final, se chegará a um bifurcação: a evolução para a institucionalidade democrática ou a consolidação do projeto.



Porém, não resta dúvida que o poder físico do governo não poderá conter muito tempo o poder moral e democrático da maioria. Ainda assim, prevalece no ânimo do oficialismo provocar o plebiscito, seja com a Assembléia Nacional e os legisladores ou os Fales de nossas orgulhosas FAN.



Todos temos que opinar...



Fonte: El Gusano de Luz



ANÁLISE DA SITUAÇÃO XIX



Orlando Augusto Nieto Willett



O presidente, desde Carenero, no estado de Miranda, afirma estar ganhando a “batalha petroleira, social, política e militar...”, além de afirmar que “mãos internacionais interessadas em pôr a mão no país” e em ”privatizar” imagino a PDVSA. Disse também que estão preparando as demissões e as demandas penais contra os que propiciaram a parada e sabotaram a indústria. O governo usando a coação e a força, tenta levar ao porto mais navios.



1. Evidentemente, desde sexta-feira, o governo em seu empenho para ativar os navios, busca afanosamente dar a impressão de começar a controlar a situação. É importante ressaltar que esta parada, até pouco tempo não existia. Para o vice-presidente era algo de ficção, e nessa matéria ele apenas lia. Para a senhora que se ocupa do trabalho, tampouco foi algo real. De maneira que a Parada Cívica Nacional surgiu como algo do nada. De repente, de improviso. Algo surgido do nada, faz fila nos postos de gasolina, bancos, supermercados, lojas e centros comerciais.



2. Outro aspecto importante é a impressão que temos, os Venezuelanos, da inexistência de instituições. À noite escutamos um advogado de alguns tripulantes dizer, como a própria procuradoria impedia que eles cumprissem com o seu dever de assistir a seus clientes, na ausência da defensoria do povo. Escutamos perplexos um grupo de juristas que analisavam o amparo que admitiu o TSJ e as falhas e violaçõe legais e constitucionais que implicam a decisão e a anarquia de sua interpretação. Patente de pirataria, segundo alguns, entregue ao governo para que faça o que lhe dê na telha. A alocução do Ministro da Defesa e de outros empregados do governo. É surpreendente, também, constatar o que continua sucedendo com a Polícia Metropolitana.



3. Porém o mais inaudito é que o governo ignora a motivação essencial da Parada Cívica Nacional, que não é outra que o de exigir o direito de resolver este problema pela via eleitoral. O presidente disse ao jornal Folha de São Paulo que para que o referendo seja possível, tem que modificar a constituição. Mente uma vez mais. O jornal Le Monde Diplomatique feito uma história de vilões. A campanha de desinformação é brutal. Busca-se encaminhar à oposição o mesmo argumento pós-abril de golpismo, com o agregado de sabotadores. A Coordenadora tem excelentes cunhas; algumas podiam ir para o exterior. É estranho que se o governo ataca a certos meios poderosos na Venezuela, estes mesmos meios não podem agenciar suas influências para equilibrar esta situação nos países adequados.



4. Durante a última marcha, um PM perguntou se no Natal marcharíamos também, e lhe disse que sim, fazia falta sim.



Conclusões: A sociedade civil está mobilizada, está consciente das razões políticas, na correta acepção do termo, que a fizeram assumir há um ano uma atitude combativa. Participa na Parada Cívico Nacional por convicção. Não é momento para oportunismos. A unidade da coordenação do comitê de conflito deve manter-se. Com sensatez, com calma, de maneira clara e contundente. O apoio aos Negociadores da Mesa é total. Porém, por razões do tempo na Parada, da época do ano, a condução deve ser particularmente habilidosa. O governo continua esperando pelo milagre do desgaste e da fadiga. É um presente que não podemos lhe dar, como tampouco a vida de nenhum Venezuelano mais.



Fonte: El Gusano de Luz



domingo, 22 de dezembro de 2002

O Notalatina informa em edição extraordinária!



URGENTE - DECLARADO O AUTOGOLPE



1) Me confirmam que a DISIP acorreu ao Eurobuilding para prender os Fernández e os da Coordenadora Democrática. Eles estão fugindo. Não sei a quem podiam prender.



2) O comando formado para resistir na greve da PDVSA é o comando unificado das Forças Armadas para dirigir o autogolpe "disfarçado".



3) As embaixadas de muitos países estrangeiros reuniram-se secreta e urgentemente e têm movido os mecanismos para ativar uma resposta internacional e uma intervenção imediata da ONU. As embaixadas que promoveram o evento foram as da Espanha e a da Itália. Avante espanhóis e italianos!



4) A intervenção aos meios de comunicação está acontecendo neste momento e se não, será nos próximos minutos; não creio que chegue a horas.



5) Só nos resta rezar, orar, e nos mantermos unidos, aguentar, que a repressão será brutal. PORÉM O POVO VENEZUELANO SERÁ TRIUNFANTE! Já conseguimos que o governo de Chávez acabe de se desmascarar e com estas últimas ações, termine de demonstrar internacionalmente que é um governo autoritarista, fora da legalidade, golpista e terrorista. Isto é suficiente para que lhe apliquem a Carta Democrática e a intervenção imediata.



6) Agradecemos a todos os contatos com a Cruz Vermelha Internacional, os direitos humanos, as Nações Unidas, todas as organizações internacionais pertinentes, governos de outros países, todos os membros da Carta Democrática, a imprensa internacional, todos os altos funcionários do governo e da armada dos USA, Inglaterra, Itália, Espanha, França, Alemanha, Portugal, Suiça, Japão, Irlanda, Canadá, etc. e em geral, todos os contatos internacionais importantes.



URGENTE-URGENTE-URGENTE mais rápido que imediatamente.

É para ontem ou antes de ontem, quero dizer!



Fonte: Babbarico